segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A menininha não-ruiva


Gostava de andar na chuva e tinha resistência em pintar as unhas de vermelho. Quando não tinha ninguém olhando, raspava o fundo do pote de iogurte com o dedo e se pegava sorrindo quando via alguma criança ruiva e sardenta na rua. Naquele dia pegou um ônibus lotado e, quando conseguiu se sentar, a primeira coisa que fez foi comer um chocolate. Não fez muitas reflexões durante o trajeto.

Quando chegou a hora de descer e saltou do coletivo, o sorriso de uma menininha (não era ruiva, nem sardenta, só esperava a mãe no portão de casa) a recebeu com um “oi”, que ela fez questão de retribuir na mesma efusividade. A menina quis continuar:

- Pensei que você fosse a minha mãe.
- Não, não sou sua mãe, mas bem que eu queria. Você é uma filha bonita.
- E você, não tem filha?
- Não, não tenho.
- Só marido?
- Nem marido.

Nessa hora, se entreolharam. A menina como que se lamentando, ela como que pedindo perdão. E pela primeira vez, se deu conta de que a vida também estava passando para ela.

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