domingo, 26 de agosto de 2012

Atenção para o espaço entre o trem e a plataforma


Aquele dia acordou atrasada. Dispensou o café da manhã, escovou os dentes, mas saiu sem pentear os cabelos. Prendeu-os num coque e correu para o ponto de ônibus. Nenhuma das pessoas costumeiras estava lá, significando que ela até poderia ter tomado seu desjejum, pois não havia muito a ser feito. 

Para não perder mais tempo, resolveu ir de metrô, que era mais rápido, mas não mais cômodo, tendo em vista que ela teria que pegar outro ônibus quando chegasse à estação central.  Mas talvez fosse a alternativa mais rápida naquele momento, para não se atrasar tanto em seu primeiro dia de serviço.

 Tinha um metro e meio e não pesava nem cinquenta quilos. Quando chegou a estação, foi facilmente empurrada pelo mar de gente para dentro do vagão, mas não conseguiu se sentar. Também não conseguia se segurar. Ficou se apoiando nas pessoas, ou sendo esmagada por elas, dependendo do ângulo que se olhava.

Quando chegou a estação de destino, tentou sair, mas o fluxo contrário de pessoas fez com que ela fosse parar na direção oposta à porta. Foi assim em todas as estações seguinte, em todos os dias que se seguiram.

Um dia, por causa de uma modernização que iria acontecer no transporte sobre trilhos, o vagão foi desativado. Dentro dele, os operários encontraram uma simpática velhinha, de cabelos brancos presos num coque, que não se lembrava para onde ia, nem a razão de estar ali. Só sabia que estava atrasada. 

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