sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Um sábado qualquer de agosto


Estava triste e feliz ao mesmo tempo. Feliz pelo amigo, que tinha ganhado uma bolsa de estudos na Europa; triste pelo tempo e os quilômetros que iriam aumentar entre eles, que já alimentavam uma saudade antecipada, meio chata para gerenciar. Pegou o avião, ensaiou um abraço, e se preparou psicologicamente para recebê-lo de novo só daqui a dois anos.

Quando pousou, eram três: ela, ele, e o outro do Rio, que estava lá pelo mesmo motivo que ela. No dia seguinte, seriam cinco, quando chegassem os outros de São Paulo. Mas naquele dia, dentro de um ônibus que os levaria para o destino pretendido, o amigo sentiu saudades do pai. Contou histórias engraçadas e deixou, ela e o outro do Rio, com vontade de conhecê-lo.

Desceram e viraram numa esquina que não estava no roteiro, tocaram a campainha e foram recebidos com gelatina e soda. E um videokê.

Se tem uma coisa capaz de parar o tempo e mudar o rumo das coisas, é um videokê. Isso ficou muito claro àquele dia. Cantaram músicas que não costumavam ouvir, se divertiram ao som de outras que não costumavam gostar, e no movimento normal das ondas, que transporta energia sem transportar matéria, a música ia levando para o infinito as coisas velhas, e trazendo para aquele momento um sentimento novo, ou há muito esquecido.

Enquanto o amigo cantava, o pai olhava-o com olhos admirados, como o criador que observa a criatura e sente orgulho de si mesmo. E o amigo, ao corresponder o olhar, encontrava novamente no pai o herói perdido da infância.

Ela sentiu uma ponta de inveja, tentou lembrar se já tinha sido olhada assim por seu pai algum dia. O amigo do Rio sentiu o mesmo, confessou depois.

Mas invejas à parte, tudo era só música naquele momento, e se o mundo acabasse, não perceberiam.

Quando os de São Paulo chegaram, mais tarde, todas as conversas giravam em torno do momento, que naquela hora, já era só lembrança.

Três dias se passaram e a música calou, cerrando os olhos orgulhosos do pai. Os olhos do filho procuraram o herói, mas ele tinha voltado para a infância. Inesperadamente, sem que ninguém imaginasse, toda felicidade dos três agora era só uma fotografia.

6 comentários:

  1. ...

    Queria eu ter tido a oportunidade de estar presente!


    Estava com saudades das tuas palavras.

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  2. Texto lindo! Disse tudo, tranquilamente poético e marcante. Eu conheço os amigos e a história, :'|

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  3. Ah Jenny... perfeito, foi perfeito, obrigado minha irmã.

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    1. Obrigada vc, Zee, por me emprestar a sua vida pra vc viver na minha :)

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